Neyde Maia Lopes , que ficou nacionalmente conhecida como "A Fera da Penha", é uma mulher que nos anos 60 foi acusada e condenada a 33 anos de prisão em regime fechado por sequestrar, assassinar e incendiar uma criança de 4 anos nos fundos do Matadouro de Bois da Penha, no bairro de mesmo nome, no subúrbio do Rio de Janeiro.
Tudo começou em 1959. Neyde, à época com 22 anos de idade, era filha única de pais idosos e vivia ainda com eles, sendo uma moça solitária, que tinha insônia e gostava de ler livros de terror e ouvir músicas tristes. A jovem morava em Jacarépaguá e trabalhava no Centro do Rio como comerciária, quando, a caminho de seu trabalho, dentro do trem, conheceu Antônio Couto Araújo, e apaixonou-se por ele na estação Central do Brasil, mas apesar disso, não lhe deu atenção, porém o homem insistiu com mais cantadas e começou a querer conhecê-la, quando, interessada, cedeu as propostas dele.
Por cerca de 3 meses inteiros Antônio a buscava no trabalho e a levava em casa no carro da empresa em que ele trabalhava, no Bairro de Fátima, dizendo para Neyde que o carro era dele. Nesse período eles também se encontravam em motéis do Rio. Nos encontros, além de beber e fumar, Neyde mostrava-se ser uma mulher diferente, pois sempre falava em morte, e perguntava se o amante a beijaria mesmo morta, o que assustava-o.
Após estes meses juntos, Neyde não desconfiava sobre nada que abalasse sua relação com Antônio, quando um dia, indo ao trabalho, ela encontrou um amigo de Antônio, já senhor de idade, que tinha uma filha da idade de Neyde, e que se preocupou com a jovem. Sem entender a preocupação, ele lhe explica tudo, e revela a Neyde que ela está sendo enganada por Antônio, e que ele é casado e pai de duas crianças. A mulher entra em fúria, mas sendo fria e calculista, mantém-se discreta e continua encontrando Antônio sem nada falar a ele. Querendo saber mais sobre a vida do amante, ela pede o endereço da casa dele a esse amigo, que ludibriado com a encenação de Neyde, se fazendo de vítima, lhe dá o endereço. Com isso, ela resolve aproximar-se da família de seu amado, fingindo ser uma velha colega de colégio de Nilza Coelho Araújo, esposa de Antônio. Neyde finge possuir o mesmo nome da esposa do amante, que inocente, cai na conversa da golpista e fala o nome da escola em que estudava, e Neyde confirma. Com a desculpa também de quer quer namorar o irmão de Nilza, Neyde conquista a confiança desta e assim passou a visitar e conviver com os familiares, sem Antônio saber, já que Neyde sabia seu horário de trabalho.
O crime da Fera da Penha
Era a manhã de um feio e frio dia 30 de junho. As pessoas se movimentavam rumo ao trabalho, e a cidade estava despertada há muito, exatamente como toda metrópole que se preze. As pessoas que trabalhavam ou no próprio local, ou nas imediações do matadouro do bairro da Penha, já se encontravam em seus postos e já tinham iniciado suas atividades quando gritos e correrias começaram a chamar a atenção de todos. Ninguém entendia o que estava se passando, mas, quase todo o mundo deixava seus afazeres para saber o que efetivamente acontecia. Até que tudo começou a ficar mais claro. Chocada, a maioria das pessoas próximas ao local foi informada de que, em um terreno baldio, ali pertinho, fora encontrado o corpo de uma criança, ainda sem sexo definido, todo queimado e irreconhecível. A brutalidade da cena chocou até os homens mais rudes acostumados com a matança de animais no abatedouro do bairro, ninguém entendendo como podia ter acontecido uma barbaridade daquela, com uma criança que aparentava, talvez, cinco anos. Logo se saberia, porém, que a criança era um garota de quatro anos, que seu nome era Tânia Maria e que, antes de ter seu corpo incendiado, levara um tiro à queima-roupa na cabeça.
O triste acontecimento se torna um prato cheio para a imprensa. A notícia chegou à população em grandes e dramáticas manchetes, dividindo os noticiários com as eleições de outubro próximo, com a escolha da “Miss Brasil” de 1960, ainda com o caso Aída Curi, com o Crime do Sacopã e com uma estranha história que dava conta de que o mundo iria se acabar no dia 14 de julho próximo. O drama real do assassinato da garota virou uma tragédia, daquelas que sempre povoavam o mundo de Nelson Rodrigues.
Assim que acionada, a polícia não teve muitas dificuldades de chegar ao assassino. À assassina, na realidade. Seu nome, Neide Maria Lopes, idade, 22 anos, estado civil, solteira, profissão, comerciária, motivação do crime: ciúme e vingança. Logo, em menos de vinte e quatro horas, toda a imprensa noticiava a prisão e confissão de Neide, a partir de então conhecida como “Frankenstein de Saia”, “Mulher-Fera”, “Besta-Humana” e, posteriormente, pelo cognome que mais colou à sua figura, “A Fera da Penha”.
Nos próximos dias, toda a história foi desvendada em detalhes, a população ficando cada vez mais impressionada quando os detalhes da trama macabra começaram a ser reveladas em seus aspectos mais sinistros.
Conhecendo a rotina da casa do amante, principalmente os horários em que as duas garotas iam e vinham do colégio onde estudavam, ela bolou um plano diabólico: fazendo-se passar por Nilza, Neide telefonou para a escola, dizendo que Tânia teria que voltar mais cedo para casa e que uma vizinha iria passar por lá para pegar a garota. O pessoal da escola de nada desconfiou, e Neide saiu com Tânia aparentemente despreocupada. Qual não foi a surpresa de Nilza, sua dor, ao ser informada, mais tarde, quando levara o lanche da garotinha, de que Tânia não se encontrava por lá, que saíra mais cedo exatamente como ela havia pedido ao telefone. Reconheceu as feições de Neide conforme descritas pelo pessoal da escola.
Em desespero, entra em contato com o marido, contando-lhe, angustiada, sobre o acontecido. Antônio, na mesma hora, ficou convicto da participação da namorada, mas, como ela sempre se mostrara cordial, não obstante suas cobranças para que ele abandonasse a família, pensou em muita coisa, menos na possibilidade de que ela pudesse fazer algum mal à sua filha.
No entanto, Neide tinha as mais macabras das intenções; levou a garota para diversos locais, inclusive para a casa de uma amiga, ao mesmo tempo em que adquiriu uma garrafa de álcool em uma farmácia por onde passara. Em casa, Antônio e Nilza aguardavam, aflitos, algum contato de Neide ou mesmo alguma notícia da filha desaparecida. A chegada da noite deixou o casal mais angustiado, agora desconfiado e temeroso de que algo de muito ruim poderia ter acontecido.Às oito e meia da noite, Neide decidiu que Tânia Maria tinha que ser sacrificada.
Inflexivelmente, dirigiu-se ao local acima descrito, sabendo que, àquela hora, ele estaria completamente deserto, e, sem dó nem piedade, agarra o revólver, mira a cabeça da garota, dá-lhe um tiro, após o qual, pega a garrafa de álcool, despeja o líquido sobre o corpo estendido no chão e lhe ateia fogo. Logo abandona o local, dirigindo-se para sua casa.
As investigações policiais, a cargo do delegado Olavo Campos Pinto, do 24º Distrito Policial, não tiveram muita dificuldade em chegar até Neide, porquanto ela deixara enormes rastros por onde passara. Com uma frieza que impressionou a todos, já que era evidente sua culpa no episódio, negou firmemente as acusações em interrogatório que ultrapassou as doze horas. Negava e negava; protestava inocência, dizendo-se perseguida pelas acusações de Antônio, só porque tivera um caso com ele. Ela só ficou abalada quando confrontada com o revólver utilizado para a perpetração do nefando crime. Olavo Campos, mostrando-lhe a arma, já confirmada ser de sua propriedade, diz a Neide que, se o revólver era dela, somente ela poderia ter praticado o bárbaro ato, porque, além de ter os motivos para tal, ela não tinha álibi para confirmar sua não participação no episódio. Mas ela se negava a tirar a máscara de sua face, dava pistas falsas, chegando a perguntar ao delegado por que tinha que ser ela a assassina e não outra qualquer. Este teve que lhe explicar que um revólver tem raias dentro do cano e que, quando uma pessoa atira, a bala sai girando e o projétil apresenta as marcas das raias do cano. Também, lhe foi mostrado o laudo que confirmava ser de seu revólver a bala assassina.